Os eleitos: Seminário Internacional UFRGS/Câmara Municipal



Sawicki aborda as relações partidárias na sociedade em rede
O Seminário Internacional As Eleitas, Os Eleitos prosseguiu nesta segunda-feira (5/9) à noite, no Plenário Otávio Rocha da Câmara Municipal de Porto Alegre, com a palestra proferida pelo cientista político e professor francês Frederic Sawicki, da Université Paris I (Sorbonne). O painel foi coordenado pelo cientista político André Marenco, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Já na abertura, Sawicki avisou que não se prenderia ao tema proposto: Como parlamentares se tornaram parlamentares. Disse que abordaria um tema teórico e ao mesmo tempo empírico para debater o papel das redes sociais na vida das organizações políticas, sindicais e de representação da sociedade.

Segundo Sawicki, essa abordagem não pode levar em conta questões individuais, mas sim relacionando-se com o interesse coletivo, campo privilegiado para o estudo da ciência política. Numa comparação entre as formas de organização dos parlamentos, Sawicki lembrou que o parlamento norte-americano é formado por homens e mulheres detentores de fortunas, pois naquele país a política expressa poder econômico. Para o cientista político, é preciso superar o conceito de Max Weber, que define que apenas os notáveis e os detentores de propriedades individuais têm direito a ser organizarem politicamente com o objetivo de chegar ao poder. 

De acordo com Sawicki, a questão central é como os partidos políticos do presente escolhem os seus candidatos a representantes e o modo como essa organização atrai ou recruta. Deve-se considerar, segundo ele, o meio imediato da pessoa. Algumas pessoas, diz ele, levam vantagem por conta de suas origens familiares, relações de amizade e até de vizinhança. Por conta dessa premissa ocorre uma desigualdade. “Essa é a questão que me interessa: por quais canais as organizações militantes entram em contato com a sociedade.”, observou o cientista político.

O seu entendimento de rede é que esse é simplesmente um meio para um partido político buscar relacionamento com o seu meio social, pois uma organização não pode ser tratada como entidade fechada, mas sim pela sua relação com a sociedade e com aquelas pessoas que construíram laços com sua estrutura. “Por isso, lanço a proposta de estudo do conceito de meio partidário que está ligado às redes com as quais ele dialoga”. Sawicki afirmou que, nos Estados Unidos e na Europa, esse tema é debatido no contexto histórico da militância, das relações políticas dos partidos com sindicatos e organizações de representação estudantil, por exemplo. 


Militantismo

Por conta dessa proposta, Sawicki considera importante valorizar o “militantismo” que traduz a forma como as pessoas se engajam pessoalmente nas agremiações partidárias. E como agem para se tornarem integrantes das mesmas. “Se nós queremos compreender essas questões, é preciso recuperar as motivações dessas pessoas para ingressar na atividade política”, salientou.

Sawicki avisou que é “muito complicado” atuar na esquerda se o indivíduo saiu de uma família com estrutura ideológica de direita, pois ele enfrenta uma convivência difícil e de hostilidade. Nesse caso, se essa pessoa não receber apoio de amigos e de colegas de partido, encontrará dificuldades para permanecer nesses partido.

No caso da França, uma saída foi a permissão para que os indivíduos formalizassem sua adesão ao Partido Socialista, por intermédio de cadastro via internet, por onde ainda poderiam efetuar doações. Mesmo assim, muitas dessas pessoas abandonaram a atividade porque não se sentiram acolhidas e ficaram isoladas da convivência grupal. 

Desse modo, diz Sawicki, a integração e o engajamento são questões complicadas. Nem todos que ingressam num partido permanecem nele de maneira perene. Na opinião de Sawicki, no Brasil a forma de adesão é um pouco diferente. As pessoas ingressam nas agremiações por conhecimento prévio e estimuladas por relações pessoais. “É importante compreender como uma organização partidária está ancorada em seu meio. Um partido muito ligado às igrejas não contribui necessariamente para a entrada dos membros dessa religião na organização política”, porque questões religiosas podem ser superadas pelos interesses sindicais das pessoas. 

Sawicki explicou que, na França, o sindicalismo é muito importante para a estrutura do Partido Socialista. Já os partidos de direita ganham adesão em escolas de relações comerciais. "Mas o partido político transcende a política. Pode ser um partido de uma rede de muçulmanos, de católicos ou de outros grupos de interesse", defendeu.


Fernando Cibelli de Castro (reg.prof. 6881)