Custo das eleições americanas de 2012 deve superar US$ 2,5 bi


EUA: Decisão da Suprema Corte eliminou o limite de doações de empresas e sindicatos


Alex Ribeiro | De Washington - A campanha eleitoral americana do próximo ano, na qual o presidente Barack Obama disputa um segundo mandato, deverá ser a mais cara da história dos Estados Unidos. Uma projeção feita pela empresa de avaliaçãode risco de crédito Moody's calcula que, somente com anúncios no rádio e na televisão, serão gastos entre R$ 2,5 bilhões e R$ 2,7 bilhões.

Nas eleições legislativas do ano passado, as despesas com comerciais ficaram em US$ 2,3 bilhões, também recordes. Em 2008, quando Obama foi eleito, foram US$ 2 bilhões. A Moody's projetou os gastos de campanha para estimar o quanto elas vão favorecer os balanços das empresas de comunicação. Ao contrário do Brasil, que tem o horário eleitoral gratuito, os comerciais políticos são pagos nos EUA.


As eleições acontecem só em novembro de 2012, mas os candidatos já estão se movimentando para levantar dinheiro. Obama registrou sua candidatura precocemente em abril porque assim fica legalmente autorizado a pedir doações. Algumas estimativas indicam que ele poderá ultrapassar US$ 1 bilhão neste ano, superando os mais de US$ 750 milhões da disputa anterior, embora os organizadores da campanha de Obama neguem objetivo tão ambicioso.


Os pré-candidatos republicanos também já estão levantando dinheiro. Mas adespesa só deve se acelerar mesmo no fim do ano, quando os candidatos republicanos devem lançar as suas campanhas publicitárias em Iowa, tradicionalmente o primeiro Estado a promover as suas eleições primárias - e que costuma ter influência nas disputas que ocorrerão em seguida nos demais Estados.


Em 2008, foram investidos US$ 35 milhões em comerciais nas primárias de Iowa, muito para um Estado relativamente pequeno. Desta vez, os gastos devem ser um pouco menores porque não deverá haver disputa no lado democrata, já que Obama é dado como candidato certo. Em 2010, o Estado com mais gastos em comerciais eleitorais foi a Califórnia, com US$ 300 milhões, seguido de Nova York, com US$ 200 milhões.


Os números tendem a ser ainda maiores neste ano por causa de uma decisão da Suprema Corte do início de 2010 que derrubou os limites para as doações feitas por empresas e por sindicatos. Esse julgamento também pavimentou o caminho para doações anônimas feitas por meio de um tipo especial de associação.


"Não sabemos de onde vem o dinheiro", disse ao Valor Randy Barrett, do Center for Public Integrity, uma organização que vigia contribuições de campanha, falando em caráter pessoal. "Serão milhões de dólares por meio desse caminho."


De forma geral, os Republicanos são vistos como os que mais se beneficiam com as regras mais frouxas para as contribuições corporativas, pois o partido em geral tem uma agenda mais alinhadas com os interesses das empresas. Os sindicatos, por outro lado, contribuem pesado para as campanhas dos candidatos democratas. E Obama, como costuma ocorrer com os candidatos democratas no poder, também tem forte apelo junto ao empresariado.


Obama já organizou perto de 30 jantares e outros eventos para levantar dinheiro. Neles, os convidados pagam um ingresso para ouvir o presidente. Há duas semanas, Obama foi a dois eventos num mesmo hotel em Washington. Num deles, 80 simpatizantes da associação Americanos em Apoio a uma Forte Relação EUA-Israel pagaram ingressos com preços entre US$ 25 mil e US$ 36 mil. Outro grupo, com cem pessoas, pagou entre US$ 10 mil e US$ 36 mil. Apenas nesse dia Obama levantou pelo menos US$ 3 milhões.


Em 2002, a campanha de Obama foi impulsionada pelas pequenas contribuições feitas por cidadãos na internet, e nessa eleição ele tenta manter a imagem de que é um candidato independente dos grandes doadores. Na última semana, foi lançada uma campanha de arrecadação em que simpatizantes contribuem com US$ 5 e disputam em sorteio um lugar num jantar com o presidente.


Do lado republicano, um dos principais arrecadadores de fundos é Karl Rove, que assessorou o ex-presidente George W. Bush. Ele mantém organismos que recebem doações não identificadas. Um deles, o American Crossroads, definiu uma meta deUS$ 120 milhões para essas eleições. Os democratas passaram a criar organismos semelhantes.


"É simplesmente impressionante quanto custa para disputar uma eleição", afirma Barrett. "Todo esse dinheiro está sendo doado por grupos de interesse que querem algo em troca."