Marcelo Côrtes Neri
Global - Inicialmente, analisamos diferenças e semelhanças de grupos emergentes entre países emergentes. Especial destaque é dado ao grupo dos Brics, contrastando elementos diversos:
Quanto o crescimento macroeconômico se reflete no bolso do cidadão comum? O Brasil mais do que outros Brics, apresentou um crescimento de pesquisas domiciliares 11,3 pontos de porcentagem superior ao PIB acumulada no período 2003 a 2009. A novidade é que essa diferença tem aumentado. Mesmo no caso do "pibão" de 2010, que cresceu a 6,5% per capita contra 9.6% da renda da PME, a desaceleração do PIB do começo de 2011 não se reflete ainda no mercado de trabalho metropolitano em 2011 onde a renda domiciliar per capita do trabalho cresce a 6.1% acima novamente do PIB.
Abrimos a nova classe média brasileira pelas dimensões globais, nacionais, locais e atuais
Quem melhora mais em cada país: a base ou o topo da distribuição de renda? Para além da média, essas mesmas pesquisas permitem ver que a desigualdade de renda cai aqui e aumenta alhures. No Brasil já cai há dez anos seguidos, já entrando no 11º ano. Os 20% mais ricos do Brasil tiveram na década passada um crescimento inferior ao dos 20% mais ricos de todos os demais Brics, já nos 20% mais pobres acontece o oposto.
Para além de melhoras objetivas, como estão atitudes e expectativas das pessoas em relação ao presente e ao futuro?
Segundo o Gallup World Poll, o grau de satisfação com a vida no Brasil em 2009 era 8,7 numa escala de 0 a 10. Superamos os demais: África do Sul (5,2), Rússia (5,2), China (4,5) e India (4,5). Mais do que isso, o Brasil é o único dos BRICS que melhora no ranking mundial de felicidade, saindo do 22º lugar em 2006 para 17º em 2009 entre 144 países.
O Brasil é o recordista mundial de felicidade futura. Numa escala de 0 a 10, o brasileiro dá uma nota média de 8,70 à sua expectativa de satisfação com a vida em 2014 superando todos os demais 146 países da amostra cuja mediana é 5,6. Essa interpretação permite entender o Brasil: "o país do futuro" criada a exatos 70 anos atrás por Stefan Zweig. O sonho representa o espírito da nova classe média tupiniquim.
Nacional - Quanto cresceu em termos líquidos diferentes estratos econômicos da sociedade brasileira no período recente?
Desde 2003 um total de 50 milhões de pessoas - mais do que uma Espanha - se juntaram ao mercado consumidor. Nos últimos 21 meses até maio de 2011 as classes C e AB cresceram 11,1% e 12,8% respectivamente. Neste período 13,3 milhões de brasileiros foram incorporadas às classes ABC, adicionando-se aos 36 milhões que migraram entre 2003 e 2009.
Atual - Indicadores antecedentes sugerem melhoras. A última semana do mês de maio 2011 pela PME Semanal sugere viés de queda para pobreza e viés de alta para a classe AB em relação ao mês completo. Não há sinais de desaceleração trabalhista.
A taxa de redução de desigualdade nos últimos 12 meses é um pouco acima daquele observado nas séries da PNAD entre 2001 e 2009 no período de marcada redução da desigualdade. O comportamento anticíclico da desigualdade sugere a ausência de dilemas equidade versus eficiência no período sob análise.
Empregos Formais - O grande símbolo da nova classe média é a carteira de trabalho. Entre janeiro e abril de 2011 houve a criação líquida de 798 mil novos postos de trabalhos, o terceiro melhor desempenho desde 2000, ficando abaixo do mesmo período em 2010 (962 mil) e 2008 (849 mil). Não há sinal de desaquecimento trabalhista.
Local - Qual é a recordista de nova classe média? Onde a pobreza e a riqueza são maiores?
O município mais classe A é Niterói com 30,7% na elite econômica. Depois vem Florianópolis (27,7%), Vitória (26,9%), São Caetano (26,5%), Porto Alegre (25,3%), Brasília (24,3%) e Santos (24,1%).
Se formos menos elitistas e incluirmos as classes B e C no páreo, o município gaúcho de Westfália apresenta a maior classe ABC com 94,2% nas Classes ABC. Quase todos os 30 municípios com maiores participações nas classes ABC estão na região Sul do país, fruto da menor desigualdade de renda lá observada.
Quais são as prescrições de políticas para a nova classe média brasileira?
É preciso "Dar o mercado aos pobres", completando o movimento dos últimos anos quando pelas vias da queda da desigualdade "demos os pobres aos mercados (consumidores)". "Dar o mercado" significa acima de tudo melhorar o acesso das pessoas ao mercado de trabalho. Os fundamentos do crescimento econômico e as reformas associadas são fundamentais aqui. A educação regular e profissional funciona como passaporte para o trabalho. O desafio é combinar as virtudes do Estado com as virtudes dos mercados, sem esquecer de evitar as falhas de cada um dos lados.